sábado, 17 de maio de 2008

Idade Média: uma visão geral

Idade Média: uma visão geral

Guilherme Gruchouskei
Henrique Nadolny Hertel


Introdução

Quando se fala em Idade Média, o que vem em nossas mentes é a existência de um mundo totalmente diferente do que vivemos atualmente, onde as facilidades do nosso cotidiano não existiam, não era apenas preciso abrir uma torneira para se ter água, mas sim era preciso buscá-la em um poço ou outra fonte. Porém este foi um período não tão difícil como se pensa e também não foi um época encantada, com mistérios e magia como muitas vezes acredita-se que fosse. No presente texto esperamos desmistificar essa imagem de um mundo de fantasia e também apresentar a luz deste período, mostrando que esta não foi uma era de trevas e estagnação como muitos afirmam.

A civilização humana, ao longo do tempo, deixou várias cicatrizes onde quer que tenha vivido e estes estigmas nos mostram como o ser humano desenvolveu sua criatividade para subsistência, conforto, elegância, lazer, proteção e, em alguns casos, para malefícios. A partir da pesquisa e da compreensão destes marcos, o estudo da História se desenvolveu seja ele por simples curiosidade e prazer ou para entender, criar ou melhorar as coisas que existem na atualidade. Segundo Pilleti & Pilleti (1993) o estudo da história “significa buscar no passado uma pista para responder às questões mais profundas sobre o surgimento do homem na Terra, sua existência, suas condições de vida e suas possibilidades para o futuro.” Os autores ainda citam a frase “a História é a mestra da vida” de um escritor romano, e é através desta que o presente texto se desenvolve.

A existência humana passou por diversos períodos e embora cada um destes tenha sua importância, trataremos dos que estão ligados diretamente com o período da Idade Média. Para uma compreensão do que foi a Idade Média é necessário antes entender que, apesar de existir uma divisão entre períodos, não houve uma ruptura entre eles e sim um processo de modificação e adaptação humana em seu habitat. Para dividir a História em períodos foram adotados alguns marcos de grande importância como: conforme cita Delorme (1969) a unificação do Egito sob a autoridade do faraó Menés-Namer em 2.850 A.C. (algumas fontes trazem 3.200) que criou a primeira dinastia tinita em Tinis, marcando assim o início da Idade Antiga. Dentro deste período Roma foi criada, em 753 A.C. (também essa criação se deve ao desenvolvimento do processo), e, inserido na Idade Antiga, está o surgimento de uma civilização que dominou grande parte da Europa com sua forma muito organizada. Em aproximadamente 27 A.C, quando houve a transição política em Roma, de República para Império, é que Roma se destacou na História como uma sociedade de grande valor cultural onde se desenvolveram alguns dos sistemas sociais que deram inicio a uma nova maneira de pensar aos personagens de eras futuras. Este foi um período que perdurou por séculos, deixando marcas em seus territórios e no resto do globo, que serviram também de herança para as próximas civilizações.

A Transição

Compreender as causas da queda do Império Romano, embora complexas, é extremamente importante para se entender a formação das próximas ocorrências na História. Apesar de ter sido uma grande potência, o Império Romano quando estava chegando ao seu auge também começava a decair. No século III Roma passava por uma série de dificuldades, afinal, o território dominado era de proporções gigantescas tomando grande parte do território europeu. E um espaço com essas dimensões necessitava de um intenso cuidado. No Almanaque Abril: Coleção grandes Impérios (2004) há a seguinte citação: “O declínio pode ter acontecido justamente porque o império era muito grande, fascinante e despertava cobiça, admiração e medo. Grande parte da civilização ocidental queria ser romana. Aconteceu uma espécie de ‘corrida do ouro’ de imigrantes em direção a Roma. Sobrava gente disposta a trabalhar.” Com essa ocorrência, houve uma lesão no controle sobre partes do território, ficando estes desprotegidos, e aproveitando esta fragilidade os povos bárbaros (qualquer povo não romano) começaram a utilizar as terras para beneficio próprio.

Em meados do século III a economia e a sociedade romana estão presenciando um caos em seu sistema: guerras civis, terras abandonadas, indústria e comércio em decadência e cidades inchadas entre outras causas, gerando um déficit econômico no capital público. Roma estava em crise e com estes fatores somados a pestes assoladoras, a qualidade de vida baixou significativamente, reduzindo a população romana a menos da metade. Os imperadores necessitavam de medidas para remediar as fraturas que Roma havia adquirido, então, como aponta Toledo (1936) “... os imperadores recorrem aos germanos, para formar com eles novas legiões, e dão-lhes terras para cultivar, sob condição de servirem no exército”. Seguindo esta linha de pensamento pode-se dizer que aos poucos Roma foi supostamente tomada pelos povos não romanos, primeiramente porque o Império Romano era altamente evoluído em questão de sociedade e, em contrapartida, os povos bárbaros não possuíam uma sociedade tão complexa. Havia então a busca por melhores condições de vida em Roma.

Simultaneamente houveram acordos com estes povos onde em troca de terras estes deveriam proteger os limites do Império.

Compreendendo estes pontos fica mais fácil de entender o motivo de uma mudança e adaptação na civilização.

A decadência do Império romano não é devida a apenas este motivo. Roma passava por uma série de dificuldades como corrupção política, intrigas entre as camadas sociais, impostos abusivos, crescimento das classes miseráveis e outras. Mas, quando começaram significativas invasões bárbaras, o Império não teve como se defender, pois já estava repleto de povos não romanos. Com estas invasões Roma foi perdendo ainda mais seu poder e progressivamente os povos bárbaros foram se fortalecendo, e, embora todos tenham sua importância, podem-se citar alguns que se destacam como: os Germanos, os Visigodos, os Francos, os Ostrogodos e, dentre outros, os Hunos. Estes por sua vez, tiveram um papel muito importante nesta transição de “eras” já que em 451 os Hunos, liderados por Átila, juntaram-se aos Vândalos, reinados por Gaiserico, e atacaram o exercito romano com sucesso e brutalidade. Com base em Toledo (1936), Átila, por esta investida, por suas estratégias e certa impiedade como líder militar era conhecido como “O flagelo de Deus”. Algumas fontes trazem a informação de que Átila deu a si esta denominação, outras dizem que foi criação da Igreja e rumores corriam pela Europa de que por onde seu cavalo passava ervas não cresciam mais.

Nos anos seguintes, pessoas de poder no domínio romano e vários lideres de povos bárbaros tentaram sem muito sucesso revitalizar o poder no Império, mas este estava fadado a enfraquecer, embora por muitos anos as civilizações coexistiriam lado a lado.

O Inicio de um Mundo Novo

Como já é dito no capitulo anterior, é errôneo afirmar a existência de uma ruptura entre os períodos da História, portanto o que houve foram mudanças e reformas progressivas na política de governo, na cultura, na economia e em diversos outros tópicos. Mas, vale destacar que a Idade Média é marcada por dois acontecimentos onde se pode observar a importância do Império Romano que assinalou de forma grandiosa essa transição, tanto em 476 com o fim dos imperadores romanos no Ocidente quanto em 1453 quando o Império Romano perdeu sua força também no Oriente.

No início do século IV o imperador Constantino criou uma nova capital na entrada do Mar Negro chamada Constantinopla, enfraquecendo mais ainda Roma. Após este acontecimento, como é citado no Almanaque Abril: Coleção Grandes Impérios (2004), em 395 o imperador Teodósio dividiu o Império em duas partes, sendo uma o Império Romano do Ocidente com sede em Roma e outra o Império Romano do Oriente ou Império Bizantino com capital em Constantinopla.

No século V, a desorganização era ainda nítida e assim seria por mais alguns séculos, pois a Europa estava flutuante buscando alguma ilha política para se apoiar. Seguindo a rigorosa linha da modificação, os povos foram se adaptando lentamente. Mas os tempos não eram plácidos, e para subsistência os camponeses eram obrigados a se unirem, uma vez que a miséria estava à solta assim como os bandidos causados por ela. Foi necessária a união dos camponeses entre eles e a alguém que pudesse dar-lhes o mínimo de segurança. Como cita o historiador Jacques Le Goff, “Os camponeses viram-se obrigados a se colocar sob dependência cada vez maior dos grandes proprietários, estes passaram também a ser chefes de grupos armados, a situação do colono tornava-se cada vez mais próxima da do escravo”. E ainda seguindo esta linha o autor faz menção da existência de revoltas camponesas devido às más condições de vida.

A adaptação e a mudança continuariam por mais alguns séculos, então é preciso que haja uma delicadeza ao se dizer que após o ano de 476 a civilização já se encontrava na Idade Média. Isso se deve pelo fato de que este começo foi turbulento e o período ainda não havia criado uma identidade própria. Para estudar a Idade Média sem comprometê-la alguns autores a dividem em períodos, dentre as divisões a mais utilizada é quando se reparte em: Alta Idade Média que se estendeu aproximadamente do século V ao X e Baixa Idade Média dos séculos XI ao XV.

Neste período, que conta com mil anos de constante evolução e com uma série de outras ocorrências, os seres humanos recomeçaram a se organizar formando grupos para fortalecer uma sociedade abalada pelo caos gerado devido à queda do Império Romano. Segundo Macedo (1996) “Com o desaparecimento do Império Romano, a Europa ficou dividida em vários reinos independentes”. Onde, povos até então denominados bárbaros pelos romanos, ampliaram os reinos já existentes e criaram novos. O território Europeu começa a sofrer uma re-divisão, e uma constante busca pela ampliação dos domínios territoriais dos grandes senhores. Simultaneamente a estes fatores, o cristianismo passa a ser a religião oficial da Europa Ocidental e começa a se fortalecer, chegando a um ponto onde tem quase total domínio dos acontecimentos no território medieval, como Macedo (1996) afirma “Os abades, lideres dos mosteiros, eram também administradores de feudos, desempenhando a um só tempo função religiosa, administrativa e até mesmo militar”. A Igreja teve um papel de extrema importância na Idade Média, pois além de concentrar poder e grande riqueza, também contava com os fiéis.


Referência:
Almanaque Abril. Coleção Grandes Impérios: Antiguidade. Vol.1. São Paulo: Editora Abril, 2004.
DELORME, J. As Grandes Datas da Humanidade. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1969.
LE GOFF, Jacques. A Civilização do Ocidente Medieval. Bauru, S.P: Ed. Edusc, 2005
MACEDO, José Rivair. Religiosidade e Messianismo na Idade Média. Coleção Desafios. São Paulo: Editora Moderna, 1996.
PILLETI, Claudino; PILLETI, Nelson. História e Vida: da Pré-História à Idade Média. Vol. 3. 12ª Ed. São Paulo: Editora Ática, 1993.
TOLEDO, Erasto de. História da Civilização: para a 3ª série gymnasial. Vol. 54. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1936.